Os primeiros meninos que viram o volume escuro e silencioso que se aproximava pelo mar tiveram a ilusão que era um barco inimigo . Mas quando ficou varado na praia descobriram que era um afogado .
Tinham brincado com ele toda a tarde , até que alguém deu voz de alarme na aldeia .
Os homens que o carregaram notaram que pesava mais que outros conhecidos e quando o estenderam no chão viram que era maior que todos os homens .
Naquela noite não saíram para o mar ... Os homens foram averiguar se faltava alguém nas aldeias vizinhas , as mulheres ficaram a cuidar do afogado .
Quando acabaram de o limpar ficaram sem respiração .
Era o mais alto , mais forte , mais viril e mais bem aparelhado que jamais tinham visto .
Não encontraram na aldeia cama suficientemente grande para o estender nem mesa suficientemente sólida para o velar .
Pensavam que se aquele magnífico homem tivesse vivido na aldeia , a sua casa teria as portas mais largas , o tecto mais alto , o chão mais firme . A sua mulher teria sido a mais feliz e teria tido tanta autoridade que teria tirado os peixes do mar pelos nomes .
Teria sido capaz de fazer tudo melhor que qualquer um dos homens da aldeia .
Quando os homens voltaram com a noticia que também não era das aldeias vizinhas , elas sentiram um vazio de júbilo entre lágrimas ...
Bendito Deus , é nosso !
E assim fizeram o funeral mais explêndido que se podia conceber .
Enquanto discutiam o privilégio de o levar aos ombros pela ladeira , homens e mulheres tiveram consciência , pela primeira vez , da desolução das suas ruas , da aridez dos seus quintais, da estreiteza dos deus sonhos , perante a formusura do afogado .
Quando o largaram no abismo da supultura , foi sem ancora para que voltasse se e quando quizesse .
Não tiveram necessidade de olhar uns para os outros para darem conta que já não estavam todos nem voltariam a estar .
Mas também sabiam que tudo seria diferente desde então ... as casas iam ter portas mais largas , tectos mais altos e soalhos mais firmes , iam pintar as fachadas de cores alegres , escavar nascentes nas pedras e semear flores nas fragas , para que quando os passageiros dos grandes barcos passassem ... ficassem deslumbrados com a aldeia de ... Esteban .
Gabriel Garcia Marquez _ O afogado mais bonito do mundo . [ com alguns cortes ]
Helene knoop
1 comentário:
Ma-ra-vi-lho-so!
Beijo :)
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