A _ cor _ dar , é preciso !


sábado, novembro 29, 2014

Côr de vivo na beleza



















 Imóvel, claramente
desumano, na
pura catedral
vive um anjo.
Um anjo não tem olhos.
Um anjo não tem sangue.
Ele não vive na vida, ele não vive  na  morte ,
ele  está  vivo na beleza.







António   Gamoneda
imagem _Sal  Villagran _

quarta-feira, novembro 26, 2014

sábado, novembro 22, 2014

Côr de florescer




















E
houve   um  dia   em  que   o   risco   de  ficar   presa  
num  botão ,   foi  mais   doloroso   do   que   o  risco   
de  florescer .




Anaïs  Nin 
imagem _ Marta Orlowska _

 

Todos   nós   já   enfrentamos   algo   semelhante  . . . 
a  resistência  à   mudanca ,  sobretudo  a  interior , 
pode   tornar -se   mais  dolorosa  do  que  a  do medo
do  salto  para   o  desconhecido !

terça-feira, novembro 18, 2014

Côr de musica que gosto

Man is for the woman made

Côr de na palma da mão




















Levo-te na palma da mão,
fechada , com  medo  que  quebres  e  sofras  dos
 males  do  mundo !

Levo-te  fechado ,  aninhado  mas  sempre tangível  ,
e  de  quando  em  vez,  quando  te  tocam  com  a 
ponta do  dedo ,
e  te   mostram um  doce  sorriso
amotinas-te , pululas  acelerado ,  descompassado
e  é impossível  conter-te .
Sais , passeias-te  alegre  como  se  atravessasses   
 campos  dourados  semeados  de  trigo ,
ou  dançasses  em  verdes  prados  ou sob azuis 
 mais  intensos.
E fluis, e rebolas pelas colinas, e banhas-te em 
riachos  de água  fria e, sorris … és feliz.
És simplesmente, feliz.
Pouco te importa o contratempo, a chuva, o trovão ,
 o mau tempo …. És feliz!
Mas quando te feres e sangras
Nas pedras que a vida semeia ,
recolhes nas mãos que te cuidam , as mãos que te sanam a ferida ,
que te afagam e te aquecem e te servem de ermida ,
que te embalam até à próxima partida.

É impossível conter-te no peito!










sábado, novembro 15, 2014

Côr de mãos de vidro






























Das tuas mãos de vidro, carregadas
De jóias tilitantes e doentes,
Das palavras que trazes afogadas ,
Das coisas que não dizes mas entendes . . .

Do teu olhar virado às madrugadas
De fantásticos e exóticos orientes,
Do teu andar de tule, das estocadas
Dos gestos que não fazes mas que sentes  . . .









José  Carlos  Ary  dos  Santos

sexta-feira, novembro 07, 2014

Côr de posição de firme





















Havia   sido   pedreiro   desde  menino  .
Quando   fez   dezoito   anos ,   o  serviço   militar   obrigou - o   a   interromper   o  ofício .
Foi  destinado  à   artilharia .
Um   dia ,  num   treino   de   canhão ,  mandaram  que   disparasse  contra   uma   casa   vazia . Ele   tinha   aprendido  a  fazer  pontaria ,  e   todo  o  resto .  Mas   não  conseguiu .  E  aos   gritos   repetiram  a  ordem . Mas  não .  Não  teve  geito .  Não  disparou .
Ele  havia   construído  muitas  casas   como  aquela .
Teria  podido   explicar  que  uma   casa  tem  pernas , afundadas  na   terra ,  e   tem  cara  ,  como  nos  desenhos   das   crianças ,  olhos  nas   janelas ,  boca  
na   porta ,  e  tem  em   seus   adentros   a  alma   que   lhe  deixaram   os  que  a  fizeram   e  a   memória  de   quem  a  viveu .
Teria   podido   explicar  tudo  isso , mas   não  disse  nada . 
Se   tivesse  dito ,  seria  fuzilado  por  imbecil .
Plantado  em   posição  de  firme ,  calou  a  boca . . .  
e   foi  parar  no  calabouço .

Numa   fogueira  das  serras  argentinas ,  numa   roda  de  amigos ,  Carlo  Barbaresi  conta  essa  essa  estória  do  seu  pai .
Aconteceu   na   Itália ,  nos  tempos  de   Mussolini .







Eduardo   Galeano _  Bocas  do  Tempo  _
imagem  _ Rozanne Bell  _