A _ cor _ dar , é preciso !


quinta-feira, dezembro 30, 2010

Côr de banjo



A beleza do acaso .

[ esta cena não fazia parte do guião do filme , e aconteceu quando a equipa fez uma paragem neste sitio ]

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Côr de desejo


*

Meteu o punhal dentro do bolso e saiu para a noite deserta .
Deserta e escura .
Seu desejo assassino era somente apunhalar as trevas
e
riscá - las de luz .

*

*

Vasco Miranda

Graciela Bello

segunda-feira, dezembro 27, 2010

Côr de ... segue -o .


*
Ninguém
pode construir em teu lugar as pontes que precisarás de passar para atravessar o rio da vida.
Ninguém, excepto tu , só tu.
Existem , por certo , atalhos sem número , e pontes , e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio , mas isso te custaria a tua própria pessoa .
Tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Aonde leva ?
Não perguntes . . . segue-o !



Friedrich Nietzsche
Carlos Verdial

sexta-feira, dezembro 24, 2010

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Côr de esquina



Foi
numa esquina qualquer que se encontraram o Pai Natal e o Menino Jesus.

Enquanto aquele se preparava para trepar um prédio , com o seu saco às costas , este último, recém-nascido , descia à terra e oferecia-se inerme , num pobre estandarte , que cobria uma mísera janela.
_ Quem és tu , Menino _ disse o velho_ e que fazes por aqui
?! É a primeira vez que te vejo !

_ Sou Jesus de Nazaré e ando há vinte séculos à procura de uma casa que me receba e , como há dois mil anos em Belém , não há quem me dê pousada.
_ Pois não é de estranhar
! Não vês que vens quase nu ?! Porque não trazes roupas quentes, como as que eu tenho , para me proteger do frio do inverno ?

_ O calor com que me aqueço é o fogo do meu amor e o afecto dos que me amam.
_ Eu trago muitos presentes , para os distribuir pelas casas das redondezas. E tu , que andas por aqui a fazer
?

_ Eu sou rico, mas fiz-me pobre , para os pobres enriquecer com a minha pobreza. Eu próprio sou o presente de quem me acolher. Não vim ensinar os homens a ter , mas a ser , porque quanto mais despojada é a vida humana , maior é aos olhos do Criador.
_ E de onde vens e como vieste até aqui
?
Eu venho da Lapónia, lá para as bandas do pólo norte.
_ Eu venho do céu , de onde é o meu Pai eterno , e vim ao mundo pelo sim de uma virgem .
_ Que coisa estranha
! Nunca ouvi falar de ninguém que tenha nascido de uma virgem e assim tenha vindo ao mundo ! E não tens nenhum animal que te transporte para tão longa viagem , como eu tenho estas renas ?

- Um burrinho foi a minha companhia em Belém , e foi também o meu trono real , na entrada triunfal em Jerusalém.
_Um burro ?! Não é grande coisa , para trono de um rei …
_ O meu reino não é deste mundo e a sua entrada é tão estreita que os meus cortesãos , para lá entrarem , se têm que fazer pequeninos , porque destes é o meu reino.
_E que coisas ofereces
? Que tesouros tens para dar ? Que prometes ?

_ Trago a felicidade , mas escondida na cruz de cada dia , trago o céu , mas oculto no pó da terra , trago a alegria e a paz , mas no reverso das labutas do próprio dever , trago a eternidade , mas no tempo gasto ao serviço dos outros , trago o amor , mas como flor e fruto da entrega sacrificada.
_ Pois eu trago as coisas que me pediram ... jogos e brinquedos para os miúdos e , para os graúdos , saúde , prazer , riqueza e poder. Mas , por mais que lhes dê , nunca estão satisfeitos!
_ A quem me dou , quer-me sempre mais na caridade que tem aos outros , porque é nos outros que eu quero que me amem a mim.
_Mais um enigma
! De facto , somos muito diferentes , mas pelo menos numa coisa nos parecemos ... ambos estamos sós , nesta noite de consoada !

_ Eu nunca estou só , porque onde estou , está sempre o meu Pai e onde eu e o Pai estamos , está também o Amor que nós somos e estão aqueles que me amam.
_Bom , a conversa está demorada e ainda tenho muitas casas para assaltar , pela lareira , como manda a praxe.
_ Eu estou à porta e bato e só entrarei na casa de quem liberrimamente me abrir a porta do seu coração e aí cearei e farei a minha morada.
_Pois sim , mas eu vou andando que já estou velho e cansado …
_ Eu acabo de nascer e quem , mesmo sendo velho , renascer comigo , será como uma fonte de água viva a jorrar para a vida eterna.
O velho Pai Natal , resmungando , subiu ao telhado do luxuoso prédio , atirou-se pela chaminé abaixo e desapareceu.


Recebido por e - mail .
Brett Lethbridgelliot

terça-feira, dezembro 21, 2010

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Côr de Carlos Pinto Coelho .



Sete anos depois de terem morto o programa Acontece ,
[ _ saía mais barato pagar uma viagem à volta do mundo a cada telespectador do programa do que o manter _ palavras do ministro da tutela de então , Morais Sarmento ] morre , no passado dia 15 , o seu apresentador .
Pesar ... ...

sábado, dezembro 11, 2010

Côr de vida ... de cães .



As duas histórias que se seguem são rigorosamente verdadeiras e têm a ver com cães especiais , sem raça defenida , cães fura vidas , e são monumentos a uma pequena liberdade de quatro patas .

A primeira fala de uma cadela que ocupou as manchetes dos jornais espanhois .
Durante onze anos tentaram infrutivamente apanhar a cadela de cor castanha .Não pedia nem olhava com expressão faminta . Simplesmente agradecia a genorizade das pessoas com discretos movimentos do rabo . Escapava sempre dos laços e redes , e quando se via a salvo ladrava feliz por ser livre . Mas uma tarde não conseguiu safar-se da rede .
Nunca uma cadela recebeu tantos pedidos de adopção . Parecia que todos os habitantes de San Sebastián a queriam . O seu cativeiro durou apenas dois dias . Assim , foi entregue a uma familia que não quis mudar seus hábitos . La Negra continua a dar os seus passeios , a brincar ... e a exibir no pescoço uma coleira que a identifica como cadela com morada conhecida .
O outro animal , um cão chamado Chiquito , não teve tanta sorte . Há sete anos que andava pelo centro de Santa Fé, e teve a infeliz ideia de meter o focinho num saco de plástico que tinha dono . Um individuo iracundo , que parou numa esplanada e deixou o saco no chão .
Chiquito não não roubou nem provou a carne , somente cheirou , mas isso bastou para que o individuo lhe desse um par de pontapés . Chiquito defendeu - se , e embora não tivesse conseguido mordê - lo , rasgou - lhe as calças .
Chiquito foi capturado pela policia . O energúmeno das calças rotas exigiu que o matassem . Os policias de Santa Fé negaram - se , e , então o sujeito denunciou a agressão ao tribunal .
Houve julgamento e Chiquito foi declarado culpado por ter causado lesões leves ao miserável que o agredira , e passou seis anos preso numa esquadra .
Até à pouco , a página _ Liberdade para Chiquito _ mostrava milhares de assinaturas que pediam a sua liberdade , ou um julgamento justo .
Chiquito morreu na prisão , aos dezoito anos . Os policias que cuidavam dele afirmam que , até ao ultimo dia , olhava para a rua e suspirava com a tristeza digna dos que sabem perder .

Tenho dois pastores alemães , e ás vezes sento - me no jardim e conto - lhes histórias .
Gostaram da história de La Negra , mas a do Chiquito , não sei se lhes contarei algum dia .



Luis Sepúlveda _ histórias daqui e dali [ esta com pequenos cortes ] _
Elisabeth H. O´Connor

quarta-feira, dezembro 08, 2010

domingo, dezembro 05, 2010

sábado, dezembro 04, 2010

Côr de Violeta


*
Passeando pelos jardins da memória , descubro que
as minhas recordações estão associadas aos sentidos .

A minha tia Teresa , a que se foi transformando em anjo e morreu com indícios de asas nos ombros , está sempre presente e ligada ao cheiro dos rebuçados da violeta . Quando esta dama encantadora aparecia de visita , nós as crianças corriamos ao seu encontro e ela abria com gestos rituais a sua velha mala , tirava uma pequena caixa de lata pintada e dava - nos um rebuçado cor de malva .

E partir de então , todas as vezes que o aroma inconfundível de violetas se insinua no ar , a imagem dessa tia santa , que roubava flores nos jardins alheios para levar aos moribundos do hospital , regressa intacta à minha alma .

Quarenta anos depois soube que era esse o selo de Josefina Bonaparte , que confiava cegamente no poder afrodisíaco daquele aroma fugidio que tão depressa assalta com uma intensidade quase nauseabunda , como desaparece sem deixar rasto para logo voltar com renovado ardor .

As cortesãs da Grécia antiga usavam - no antes de cada encontro amoroso , para perfumar o hálito e as zonas erógenas .

No Tantra , filosofia mística e espiritual que exalta a união dos opostos em todos os planos , desde o cósmico até ao mais infímo , e na qual o homem e a mulher são espelhos de energias divinas , a violeta é a cor da sexualidade feminina , e por isso a adoptaram alguns movimentos femininos .



Isabel Allende _ pequeno excerto de Afrodite , histórias , receitas e outros afrodisíacos _
Rene Magritte

terça-feira, novembro 30, 2010

Côr de nevoeiro . . .



Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer ...

Brilho sem luz e sem arder ,
Como o que o fogo-fatuo encerra.

Ninguem sabe que coisa quere.
Ninguem conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
_ Que ancia distante perto chora
? _

Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal , hoje és nevoeiro ...

É a Hora
!



*
Fernando Pessoa _ A Mensagem _
Olga Domanova

domingo, novembro 28, 2010

Côr de Ver .


*
Assim como há muitos que olham para cegar , que são os que olham sem tento , assim há muitos que vêem sem olhar porque vêem sem atenção . Não basta ver para ver , é necessário olhar para o que se vê . Não vemos as cousas que vemos , porque não olhamos para elas .Vêmo -las sem advertência e atenção , e a mesma desatenção é a cegueira da vista .
Divertem - nos a atenção os pensamentos ; suspendem - nos a tenção os cuidados ; prendem - nos a atenção os afectos ; e por isso , vendo a vaidade do mundo , imos após ela como se fora muito sólida . Vendo o engano da esperança , confiamos nela como se fora muito certa . Vendo a fragilidade da vida , fundamentamos sobre ela castelos como se fora muito firme . Vendo a inconstância da fortuna , seguimos suas promessas como se foram muito muito seguras . Vendo a mentira de todas as cousas humanas , cremos nelas como se foram muito verdadeiras .

*


Padre António Vieira [ sermões _ 35 _ ]
Lisa Clague

quarta-feira, novembro 24, 2010

sábado, novembro 20, 2010

Côr de fome de amor



Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana .

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e

souberam entender-se sem palavras inúteis .
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado .

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo .

Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade .
A rádio já falou A tv anuncia
iminente a captura . A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde .
Antes que o exemplo frutifique .

Antes que a invenção do amor se processe em cadeia .

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos .
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o
.
Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade .

É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escolas .

Sobretudo protejam as crianças da contaminação .
Uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram .
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos .
Ainda bem que se revelou a tempo .Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros . É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas
/

É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas .
Foi condenado à morte é evidente .É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta
/

Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua


*
Daniel Filipe _ A invenção do Amor _
Mel Odon

sábado, novembro 13, 2010

Côr de pequena oração


Quando
a nossa dor descansa ,
e as lágrimas nos olhos são mais frescas que o orvalho das flores ...
Ave - Maria
*
*
Cristovam Pavia
Dominique Telmon

domingo, novembro 07, 2010

Côr de musica que gosto

Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus
Escorre o gengibre e o mel
Sedas porcelanas
Pimenta e canela
Recebendo ofertas
De músicas suaves
Em nossas orelhas
leve como o ar
A terra a navegar
Meu bem como eu vou
Por este rio acima

Por este rio acima
Os barcos vão pintados
De muitas pinturas
Descrevem varandas
E os cabelos de Inês
Desenham memórias
Ao longo da água
Bosques enfeitiçados
Soutos laranjeiras
Campinas de trigo
Amores repartidos
Afagam as dores
Quando são sentidos
Monstros adormecidos
Na esfera do fogo
Como nasce a paz
Por este rio acima

Meu sonho
Quanto eu te quero
Eu nem sei
Eu nem sei
Fica um bocadinho mais
Que eu também
Que eu também
meu bem

Por este rio acima
isto que é de uns
Também é de outros
Não é mais nem menos
Nascidos foram todos
Do suor da fêmea
Do calor do macho
Aquilo que uns tratam
Não hão-de tratar
Outros de outra coisa
Pois o que vende o fresco
Não vende o salgado
Nem também o seco
Na terra em harmonia
Perfeita e suave
das margens do rio
Por este rio acima

Meu sonho
Quanto eu te quero
Eu nem sei
Eu nem sei
Fica um bocadinho mais
Que eu também
Que eu também
meu bem

Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus
Escorre o gengibre e o mel
Sedas porcelanas
Pimenta e canela
Recebendo ofertas
De músicas suaves
Em nossas orelhas
leve como o ar
A terra a navegar
Meu bem como eu vou
Por este rio acima


Fausto

sábado, novembro 06, 2010

Côr de imortalidade



















Muitas vezes ,
à beira de achar a receita da imortalidade ,
fui distraído pela presença pavorosa da morte .


Hector Faciolince_ Receitas de amor para mulheres tristes _
Laurie Lipton

terça-feira, novembro 02, 2010

segunda-feira, novembro 01, 2010

Côr de herança musical

Uma das musicas preferídas de meu Avô .
Mais tarde de
meu Pai e minha , neste momento .




Para o meu Pai , já que seria dia de seu aniversário , o presente que gostaria , por singelo .
Considerava crime cortar flores e não aplaudia homenagens póstumas .
_ Amem - me em vida _ dizia
.

domingo, outubro 31, 2010

Côr de elogio à imaginação .




















*

Algum tempo atrás , a BBC perguntou ás crianças britânicas se preferiam a televisão ou a rádio . Quase todas escolheram a televisão , o que foi algo assim como constatar que os gatos miam e os mortos não respiram . Mas entre as poucas crianças que escolheram o rádio , houve uma que explicou ...

_ Gosto mais de rádio , porque pela rádio vejo paisagens mais bonitas _

*
*

Eduardo Galeano
Rebeka _ Rodosek

sábado, outubro 30, 2010

Côr de pessimismo


O
pessimismo é bom ,
quando é fonte de energia .
*
*
Fernando Pessoa _ palavras de _
Braldt Bralds

sábado, outubro 23, 2010

Côr de insatisfação .


Sente - se
uma insatisfação , sobretudo nos jovens , perante um mundo que já não oferece nada , só vende !
*
*
José Saramago

quinta-feira, outubro 21, 2010

Côr de furtacores .


*
_ O que é escrever? No fundo é estruturar o delírio , e tem graça porque quando se trata o delírio o que aparece sempre é uma depressão subjacente _

_ Um amigo meu , o Daniel Sampaio , talvez o melhor psiquiatra português , costuma dizer que só os psicóticos são criadores. Você fala com um neurótico e são tipos que não são nada , que são chatos , repetitivos.
Os psicóticos são espantosos , dizem frases espantosas , estou a lembrar - me de uma que era ...
" aquele homem tem uma voz de sabonete embrulhado em papel furtacores " _
Isto é uma frase do caraças _


Antonio Lobo Antunes

segunda-feira, outubro 18, 2010

Côr de Mago .












*
Mago respirou fundo . Abriu o nariz e encheu o peito de ar ou de luar , não podia saber ao certo , porque a noite era clara como o dia e parada como uma montanha . Esticou-se então por inteiro , firmado nas quatro patas , arqueou o lombo , e deixando-se ficar assim por alguns instantes, só músculos, tendões e nervos, com os ossos a ranger de cabo a rabo. Arre , que não podia mais ! A quele mormaço da sala dava cabo dele. Deixava-o sem ação , bambo , mole e morno como o cobertor de papa onde dormia. A que baixezas a gente pode chegar ! Ah , mas tinha que acabar semelhante degradação ! Não pensasse lá agora a senhora D. Maria da Glória Sância que estava disposto a deixar-se perder para sempre no seu regaço macio de solteirona. Não faltava mais nada !
/

_ Ouvi dizer que já nem sardinhas comes ?!
Essa agora! É todos os dias...
E que nunca mais caçaste
?
Ainda esta manhã ... _

Piadinhas do Lambão ...
/
/
E , sem querer, sem poder aceitar a sua degradação, Mago entrou pelo postigo da cozinha e foi-se deitar entre os braços balofos da D. Sância
.

Mas a que propósito vinham agora as perplexidades e as recriminações ? Sim , a que propósito? Fartinho de saber que nem sequer lhe passara pela cabeça a idéia de resolver o caso doutra maneira ! Ao menos fosse sincero . De resto , que esforço concreto fizera para se libertar ? Nenhum. Ainda não havia uma dúzia de horas , ouvira a voz de Lambão como um eco da própria consciência ... E , afinal , ali estava outra vez ! E viera de livre vontade ... Ninguém o obrigara... Já roído de remorsos ? Ora, ora ! Outro fosse ele , nem aquela casa encarava mais.
E voltara ! Sim , voltara miseravelmente... E à procura de quê ?
Da paz podre , dum conforto castrador ... ...
*
*
Miguel Torga _ excerto de Bichos _

Bichos _ ... porque de quatro patas , ou de duas pernas e dois braços _

domingo, outubro 17, 2010

sexta-feira, outubro 15, 2010

Côr de ... amo - te .



















Ele nunca lhe disse ... amo - te .
Mas lá no fundo , sempre soube disso.
Ele nunca lhe segurou as mãos .
Mas lá no fundo , o apoio existe .
Ele nunca a olhou dentro dos olhos .
Mas lá no fundo , o enlevo existe .
E esse enlevo , dá - lhe a certeza que é o seu colo que quer , como mulher e como criança .
Porém , um turbilhão começa a inundar - lhe a alma .
Nunca soube lidar com turbilhões , nem com sentimentos avassaladores .
Medo ? Talvez .
Um medo vindo de distantes passados .
E
a mulher que fácilmente ama , e que é fácil de amar , não fecha a porta ao amor ,
mas ... à palavra ... amo - te
!
É que os sentimentos não são falsos , mas as palavras ... podem ser .

quarta-feira, outubro 13, 2010

Côr de ... ainda .
















São estes gestos que seguram , ainda , a esperança na raça humana .

sábado, outubro 09, 2010

quarta-feira, outubro 06, 2010

Côr de Amália .



Quando Lisboa anoitece
Como um veleiro sem velas
Alfama toda parece
Uma casa sem janelas
Aonde o povo arrefece

É numa água-furtada
No espaço roubado à mágoa
Que Alfama fica fechada
Em quatro paredes de água
Quatro paredes de pranto

Quatro muros de ansiedade
Que à noite fazem o canto
Que se acende na cidade
Fechada em seu desencanto
Alfama cheira a saudade

Alfama não cheira a fado
Cheira a povo, a solidão,
Cheira a silêncio magoado
Sabe a tristeza com pão
Alfama não cheira a fado
Mas não tem outra canção.

Ary dos Santos

terça-feira, outubro 05, 2010

Côr de centenário da republica .





















Republica ... Res Publica ... Coisa Publica !

segunda-feira, outubro 04, 2010

Côr de dia do animal .

O avanço de uma nação , vê - se , pela forma como os seus animais são tratados .

Mahatman Gandhi

É evidente que algumas efemérides são descabidas .
Dia do animal !!!
Não deviam sê - lo ... todos ?!





















A cinzas , teve , exactamente , há um mês três filhotes .
Foi o seu presente para a Mariana .
Ontem ,
para mim , foi trazê - los , um a um , já todos reguilas , como a apresentá - los .
Mas ... mesmo com a responsabilidade de mãe , não precindiu do seu costumeiro pedido ... colo .

Como amo esta amiguinha !

domingo, outubro 03, 2010

Côr de musica que gosto .

Côr de partilha .

Olá Amiga ,

Entrou há pouquinho o dia 3 e quero aproveitá-lo desde o início para a saudar, enviar-lhe os parabéns e desejar que seja mesmo um dia em cheio!
Vou partilhar consigo um excerto dum poema de Camilo Pessanha que " me encontrou"
hoje, porque nada acontece por acaso, acho eu...

"Encontraste-me um dia no caminho/ Em procura de quê, nem eu o sei./ Bom dia, companheiro _ te saudei,/ Que a jornada é maior indo sozinho.

É longe, e muito longe, há muito espinho!/ Paraste a repousar, eu descansei.../ Na venda em que poisaste, onde poisei,/ Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário./ Corta os pés como a rocha dum calvário,/ E queima como a areia!...Foi no entanto

Que chorámos a dor de cada um.../ E o vinho em que choraste era comum / Tivemos que beber do mesmo pranto.
/

Deixai-me chorar mais e beber mais ,/ Perseguir doidamente os meus ideais,/ E ter fé e sonhar .... encher a alma."

Beijinhos


*
Obrigada .
O excerto do poema é lindo .
Um beijo

Côr de ... dia 3 de Outubro .



Um presente de um amigo .
" ... como gostas de mãos .
E não me digas que não gostas do cenário "


Obrigada .
Ser lembrada é muito bom .

sábado, outubro 02, 2010

Côr de Mahatma Gandhi .






















Temos
de nos tornar na mudança que queremos ver .


Mahatma Gandhi [ nascido a 2 de Outubro de 1869 ]

sexta-feira, outubro 01, 2010

Côr de agua e musica .






















Agua ,
e
musica .

A primeira ,
necessária a todas as formas de vida .
Bem essencial , portanto , ainda que muitos de nós o esqueça .
A segunda ,
existiu , sempre , na natureza ... nos chamados barulhos ... agua correndo ... uivo do vento ... nas próprias tempestades ... em muitas manifestações animais , sobretudo no canto dos pássaros e , até ... no próprio silêncio .
O homem , servindo - se desta base , fez aquilo que não é um bem essencial , mas uma necessidade , para muitos .

terça-feira, setembro 28, 2010

domingo, setembro 26, 2010

sábado, setembro 25, 2010

Côr de ... quem nos terá ensinado .





















Das toupeiras aprendemos a cavar túneis.
Dos castores , aprendemos a fazer diques.
Dos passaros , aprendemos a fazer casas.
Das aranhas , aprendemos a tecer.
Do tronco que rodava ladeira abaixo, aprendemos a roda.
Do tronco que flutuava à deriva , aprendemos a nau.
Do vento , aprendemos a vela.

Quem nos terá ensinado as manhas ruins?
De quem aprendemos a atormentar o próximo e a humilhar o mundo?


Eduardo Galeano _Bocas do Tempo _

quinta-feira, setembro 23, 2010

Côr de Outono .






















Cores ténues ... misturadas com fortes e belos vermelhos .
Cheiros bons , aconchegantes .
Tempo de inícios ou recomeços .
De suaves melodias ...
Silêncios ... ... ...
A

minha estação .

quinta-feira, setembro 16, 2010

Côr de ... sou quieta .



Não,
não ofereço perigo algum ...
sou quieta como folha de outono esquecida entre as páginas de um livro , definida e clara como o jarro com a bacia de ágata no canto do quarto. Se tomada com cuidado , verto água límpida sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto , mas se tocada por dedos bruscos num segundo me estilhaço em cacos , me esfarelo em poeira dourada.

Tenho pensado se não guardarei indisfarçáveis remendos das muitas quedas , dos muitos toques , embora sempre os tenha evitado .
Aprendi que minhas delicadezas nem sempre são suficientes para despertar a suavidade alheia , e mesmo assim ...
insisto ....


Caio F. de Abreu _ Os dragões não conhecem o paraíso _

sexta-feira, setembro 10, 2010

Côr de ... direito ao delírio .


/
Possuímos uma única certeza ... no século vinte e um , ainda que possamos estar aqui , seremos todos gente do século passado e , pior ainda , seremos gente do passado milénio. Não podemos todavia tentar adivinhar o tempo que será sem que tenhamos, pelo menos, o direito de imaginar aquele que queremos que seja. Em 1948 e em 1976 , as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos, mas a imensa maioria da humanidade não tem senão o direito de ver, de ouvir e de calar. Que tal se começássemos a exercer o nunca proclamado direito de sonhar ? Que tal se delirásemos por um pouco ? Vamos então lançar o olhar para lá da infâmia , tentando adivinhar outro mundo possível.

No próximo milénio o ar estará limpo de todo veneno que não venha dos medos humanos e das humanas paixões. Nas ruas, os automóveis serão esmagados pelos cães. As pessoas não serão programadas por computador , nem compradas no supermercado, nem espiadas por televisor. O televisor deixará de ser o membro mais importante da família e será tratado como o ferro de engomar ou a máquina de lavar a roupa. As pessoas trabalharão para viver, em vez de viverem para trabalhar. Será incorporado nos códigos penais o delito de estupidez, que cometem todos aqueles que vivem para ter ou para ganhar, em vez de viverem apenas para viver, como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca. Em nenhum país serão presos os jovens que se recusem a cumprir o serviço militar. Os economistas não chamarão nível de vida ao nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à quantidade de coisas. Os cozinheiros deixarão de considerar que as lagostas gostam de ser cosidas vivas. Os historiadores deixarão de crer que existiram países que gostaram de ser invadidos. Os políticos não acreditarão mais que os pobres adoram comer promessas. A solenidade deixará de se julgar uma virtude e ninguém tomará a sério nada que não seja capaz de assumir. A morte e o dinheiro perderão os seus poderes mágicos , e nem por disfunção ou por acaso será possível transformar o canalha em cavalheiro virtuoso. Ninguém será considerado herói ou louco só porque faz aquilo que acredita ser justo, em vez de fazer aquilo que mais lhe convém. O mundo já não se encontrará em guerra contra os pobres , mas sim contra a pobreza, e a indústria militar não terá outro caminho senão declarar a falência. A comida não será uma mercadoria , nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direitos humanos. Ninguém morrerá de fome porque ninguém morrerá de indigestão. As crianças de rua não serão tratadas como se fossem lixo, porque não haverá crianças de rua. Os meninos ricos não serão tratadas como se fossem dinheiro porque não existirão meninos ricos. A educação não será um privilégio apenas de quem possa pagá-la. A polícia não será a maldição daqueles que não podem comprá-la. A justiça e a liberdade , irmãs siamesas condenadas a viverem separadas , voltarão a juntar-se , bem unidas ombro com ombro. Uma mulher , negra, será presidente do Brasil e outra mulher, negra também, será presidente dos Estados Unidos da América , uma mulher índia governará a Guatemala , e outra o Peru. Na Argentina , as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental , porque se negaram a esquecer em tempos de amnésia obrigatória. A Santa Madre Igreja corrigirá os erros das tábuas de Moisés , e o sexto mandamento mandará festejar o corpo. A Igreja ditará também outro mandamento que havia sido esquecido ... " Amarás a natureza , da qual fazes parte ". E serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma.

Os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados , porque eles são aqueles que desesperaram de tanto esperar e os que se perderam de tanto procurar. Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham desejo de justiça e desejo de beleza , tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido quando tenham vivido , sem que importem as fronteiras do mapa e do tempo. A perfeição continuará a ser o aborrecido privilégio dos deuses , mas , neste mundo imperfeito e exaltante , cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro.


Eduardo Galeano .

segunda-feira, setembro 06, 2010

sábado, setembro 04, 2010

Côr de ... eu não deixe .


*
A utopia
está lá no horizonte.
Me aproximo dois passos , ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe , jamais alcançarei.
Para que serve a utopia
?
Serve para isso ...

para que eu não deixe de caminhar.


Eduardo Galeano

sexta-feira, setembro 03, 2010

Côr de Mariana , meu pequeno grande amor .



Fôfinha ,
há cinco anos atrás houve umas mãos que te seguraram e te apresentaram à Vida .
Neste momento , as tuas já se abrem para segurar algo que faz parte desta mesma Vida .
Que continues de mãos abertas para dar , receber e segurar , mas ...

sem aprisionar.

*
Um abracinho muito apertado e um beijo grande , mas mesmo muito grande !

domingo, agosto 29, 2010

sábado, agosto 28, 2010

Côr de transfiguração .



*

Quando chegou à beira do oceano fulgurante ,
parou para chorar . Revestiu - se de ornamentos ...
o adereço de plumas de quetzal , a máscara de turquesas .
E assim adornado , subiu a uma pira e lançou - lhe fogo ,
ele próprio o lançou , e cercaram -no as labaredas ...
e por isso que se chama Fogueira
ao lugar onde Quetzalcátl foi queimado .

E quando ardia e as cinzas ascendiam no ar ,
vieram vê-lo as aves ... guacamayas vermelhas ,
o brusco estorninho , o pássaro azulejo ,
piriquitos , papagaios amarelos ,
o pássaro branco que brilha ,
vieram vê - lo os pássaros sumptuosos .

Quando se extinguiu o fogo , subiu ao céu
e nele entrou o coração divino ,
e tornou -se a Estrela de Alva ,
a estrela que aparece primeiro . E ela apareceu ,
ela nasceu da morte do deus queimado .

Por isso é que o chamamos « Aquele Que Reina sobre a Aurora »

E ninguém o viu durante quatro dias ,
durante quatro dias ele desceu ao Reino dos Infernos ,
durante quatro dias ele conquistou muitos raios ,
e oito dias passados surgiu como um astro maior .

E agora reina .

Poema Azteca
_ Rosa do Mundo , 2001 poemas para o futuro _

*
*
Para Noslen ed Azuos .

sexta-feira, agosto 27, 2010

quinta-feira, agosto 26, 2010

Côr de apelo .


*
Caro Professor ,

Sou um sobrevivente de um campo de concentração.
Os meus olhos viram o que jamais olhos humanos deveriam poder ver ...

_ Câmaras de gás construídas por engenheiros doutorados .
_ Adolescentes envenenados por físicos eruditos .
_ Crianças assassinadas por enfermeiras diplomadas .
_ Mulheres e bébés queimados por bacharéis e licenciados.
Por isso desconfio da Educação.

Eis o meu apelo ...
Ajudem os vossos alunos a serem Gente.
Que os vossos esforços nunca possam produzir monstros instruídos , psicopatas competentes , Eichmanns educados .
A leitura , a escrita , a aritmética só são importantes se tornarem as nossas crianças mais humanas.

Carta de um sobrevivente do Holocausto , ao director do New York Times.
*
*
Não sei da veracidade desta carta [ foi - me enviada por
e - mail ] .
Porém , resolvi postá - la , porque podendo não o ser , o descrito nela ... ... foi !
E o apelo , mais que isso , é um grito que não podemos de deixar de escutar .

terça-feira, agosto 24, 2010

quarta-feira, agosto 18, 2010

Côr de Oração Simples .


/
Num dia longínquio tinhamos estados todos nus , desarmados , frágeis .
Nesse dia , o nosso olhar tinha sido o mesmo . Um olhar olhar desprovido de preconceitos , brilhante de alegria .
Havia algo de pungente nessa imagem . Afinal , pensei enquanto subia o monte , para se deixar de odiar , bastaria ver as pessoas assim .
Comoção e compaixão .
Comoção pela nudez , compaixão pela fragilidade .
A mesma comoção e compaixão que sentia por todas as existências que continuavam a ignorar-se a si mesmas .
/
Crescer não significa esquecer o estado de recém nascido , mas reassumi - lo .

Quando cheguei ao cimo do monte , o vento começou a soprar e a temperatura desceu .
Lá em cima percebi que a morte já não me metia medo , porque morte e vida são duas formas de existir .
De repente o vento parou e começou a nevar .
Então , decidi voltar .
Pouco antes do convento , encontrei um veado com umas astes enormes . Roçava o pescoço e o focinho contra a casca de uma arvore . Julgava que ia fugir , ao ver - me , mas ficou quieto . Tinha uns olhos extraordinariamente negros e brilhantes . Não tinha medo , no seu olhar não havia julgamento ou desafio , observava - me apenas .
_ Os homens gostam de matar os animais porque têm inveja da sua graça natural _ dissera - me uma vez a irmã Irene .
Quando o veado se mexeu , pensei que ela tinha razão . Havia uma Graça no mundo vivo , e o homem fazia tudo para ser excluído dessa Graça .
/
Fiquei junto da irmã toda a tarde e toda a noite .
No dia seguinte , satisfazendo as suas ultimas vontades ,
envolvi - lhe o corpo num pano branco .
Tive que tirar com a pá alguma neve antes de chegar à terra , e alguma terra antes de conseguir sepultá - la .
Ela tinha - me dado uma folha de papel para eu ler . Era a oração simples de S . Francisco .
Quando li ... ... _ é - se perdoado .
Morrendo , ressuscita - se para a verdadeira vida _
a neve voltou a cair .


Susana Tamaro _ A alma do Mundo _

segunda-feira, agosto 16, 2010

Côr de bilhete a Deus .


*
Meu Pai , meu Filho , meu Espirito Santo .

Estendo as mãos à caveira da noite , e a criatura que sou consome - a a areia de vidro do tempo . Nada digo que não te pertença , nada escrevo que não corra à eternidade .
De cada vez que caio subo mais alto , e ao reencontrar - te , voo acima de mim mesmo . Aquieto - me contigo , com o pão e o vinho , e não há luz que pese como o absoluto cristal do ar .
Mas quando o teu rosto se afasta , e a treva se desdobra , o Mundo fica um caroço de mágoa que endurece no lugar do coração .
Livra - me da tua ausência . Fica comigo enquanto o dia acaba .

Mário Cláudio ( escritor ) _ Cartas a Deus _

quinta-feira, agosto 12, 2010

Côr de ... cortar a direito .



Os amigos recordam - no , saudosos , como um homem recto , cidadão que , face a contrariedades , não perdoava ...
Se os calos o magoavam , vik ! Se lhe doíam os dentes , vuk !
A ultima vez que foi visto , queixara - se de uma leve dor de cabeça .

*
Augusto Baptista _ O homem que _

terça-feira, agosto 10, 2010

Côr de alegre serenidade .


O bailado ,
acompanhado dos seus tão peculiares gritos , demonstrando alegria , pela chegada de um barco pesqueiro .


Fazendo pose ,
sem qualquer medo da câmara .

sexta-feira, julho 30, 2010

Côr de Um Ser com magia .



Mais um ... ... até sempre .
E
Sobretudo um ,

muito obrigada !

quinta-feira, julho 29, 2010

Côr de esteios .



_ Kitty é talvez a gata mais aventureira do mundo. Ela é o animal de estimação " amada gata " de um casal francês / exploradores, Guillaume e Laetitia , que estão numa missão , viajar de Miami , E.U. para Ushuaia , Argentina , a pé.

Kitty , é muitas vezes vista em repouso na mochila transportada por Guillaume enquanto eles estão a descer a estrada. Criaram um guarda-chuva na mochila pequena para dar a kitty alguma sombra . Kitty gosta da viagem, tanto quanto o casal. Muitas vezes sobe para o ombro de seu pai , para conseguir uma boa olhada em cada novo cenário. Ela não parece ser tímida quando encontra novas pessoas e novos lugares _ .

*
Cenas como estas , são esteios para a esperança que eu quero ter , a todo custo , em relação ao meu irmão humano .

quarta-feira, julho 28, 2010

Côr de madeira lilás .


*
De madeira lilás [ninguém me crê]
se fez meu coração.
Espécie escassa de cedro , pela cor e porque abriga
em seu âmago a morte que o ameaça.
Madeira dói
?

Pergunta quem me vê
os braços verdes, os olhos cheios de asas.
Por mim responde a luz do amanhecer
que recobre de escamas esmaltadas
as águas densas que me deram raça
e cantam nas raízes do meu ser.
No crepúsculo estou da ribanceira
entre as estrelas e o chão que me abençoa
as nervuras.
Já não faz mal que doa
meu bravo coração de água e madeira.



Thiago de Mello

segunda-feira, julho 19, 2010

Côr de brisa ou ventania .


*
Sou como você me vê...
posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania , depende de quando e como você me vê passar...suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras, sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calma e perdôo logo.
Não esqueço nunca. Mas há poucas coisas de que eu me lembre...Tenho felicidade o bastante para ser doce , dificuldades para ser forte , tristeza para ser humana e esperança suficiente para ser feliz.

Não me dêem fórmulas certas , por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim , por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual , por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma , mas com certeza não serei a mesma pra sempre...

Sou uma filha da natureza ... quero pegar , sentir , tocar , ser.
E tudo isso já faz parte de um todo , de um mistério.
Sou uma só... Sou um ser...a única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.


Clarice Lispector


É isso ... vivo ... leve como uma brisa ou forte como uma ventania .

sábado, julho 17, 2010

Côr de tristeza


*
Dás reviravoltas ao corpo e à imaginação para afastares a tristeza.
Mas quem te disse que é proibido estar triste ?
A verdade é que , muitas vezes , não há nada mais sensato que estar triste . Todos os dias acontecem coisas , aos outros e a nós que não têm remédio , ou melhor , têm esse antigo e único remédio de nos sentirmos tristes .
Não deixes que te receitem alegria , como quem prescreve uma temporada de antibióticos .
Se deixares que tratem a tua tristeza como se fosse uma preversão ou , na melhor das hipóteses uma doença , estás perdida ... além de triste , irás sentir-te culpada .
Não é normal que sintas dor quando te cortas ?
Pois , do mesmo modo , a vaga de sucessão de factos que acontecem , ou dos que não , criam um fundo de melancolia.
Vive a tua tristeza . Tacteia - a , desfolha-a , molha-a com lágrimas , envolve-a em gritos ou em silêncio .
E para saboreares a tua tristeza vou recomendar-te um prato melancólico ... couve - flor com brumas .
Coze em vapor de água essa flor branca , triste e transcendente . Devagar , até amaciar .
E envolta em bruma , põe - lhe azeite , alho e salga-a com lágrimas que sejam tuas .
Então , saborei-a devagarinho , mordendo do garfo , e chora mais , que aquela flor acabará por ir chupando a tua melancolia sem te deixar seca .
Mas com a sensação de teres partilhado com essa flor imarcescível , absurda , pré - histórica , essa flor que os noivos nunca pedem nas floristas , essa flor que ninguém põe nas jarras ,
a tua própria tristeza .


Héctor A. Faciolince _ Receitas de amor para mulheres tristes _

terça-feira, julho 13, 2010

Côr de retrato .



Era uma vez ...
uma fonte à beira da estrada.
Os pardais das árvores vizinhas tinham ali o seu ponto de encontro.
Matavam a sede, tomavam banho, chilreavam uns com os outros.
De semana a semana, vinha um homem, sempre de automóvel, buscar água à fonte. Enchia uma quantidade de garrafões de plástico e , depois , abalava.
Nessas alturas , a pardalada fugia para o poiso das árvores e ficava a observar.
_ O que é que ele vai fazer com tanta água _
?
intrigava-se um pardalito novo.
_ Deve ir regar as couves _ sugeria um pardal.
_ Para regar as couves é pouca _ replicava uma velha pardoca , muito conhecedora da vida.
_ Então é para ele beber _ propunha outro pardal.
_ Para ele beber é muita _ replicava a velha pardoca.
_ Para o que será
?
_ perguntava o pardalito, sem que ninguém soubesse responder -
lhe.
Decidiu investigar. Voou atrás do automóvel, mas como ainda tinha as asas com pouca força e a estrada era às curvas e contra-curvas, perdeu-lhe o rasto. E perdeu-se.
Esvoaçou ao calhas, até descer sobre um telheiro, junto à estrada. No telheiro havia melões à venda e cebolas e batatas e garrafões de vinho.
Alto lá !
E também havia garrafões de água , tal e qual os que o homem do automóvel enchia, na fonte dos pardais.
Se o pardal soubesse ler, leria no rótulo dos garrafões ...
“Água da Fonte da Saúde _ Graças a ela, os novos crescem e os velhos não encolhem _ ".
Aos saltinhos, diante dos garrafões , o pardalito admirava a fotografia do rótulo. Lá estava a fonte , centro da sua vida , e uns passarinhos a beber água no rebordo do tanque. Vendo bem , aquele mais pequeno, à direita, podia ser ele, o pardalito aventureiro.
Muito orgulhoso da sua descoberta, o pardal voou muito alto, tão alto que , lá de cima, viu o telheiro dos garrafões, a estrada às curvas e a fonte da Saúde ou dos pardais, donde ele viera.
Disparou em direcção ao ponto de partida e muito excitado piou para os companheiros:
_ Já sei o segredo dos garrafões. O homem anda a vender o nosso retrato mais o retrato da nossa fonte.
_ E a água para que serve? — perguntou um companheiro.
_ Para segurar o nosso retrato — respondeu , prontamente, o pardalito.


António Torrado


Qualquer semelhança com atitudes e pensamentos humanos , é pura coincidência .

segunda-feira, julho 12, 2010