As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem .
Com o vento soltam ais como se suspirassem ,
e gemem , mas a queixa não é sua .
Sós , sempre sós.
Nas planícies , nos montes , nas florestas .
A crescer e a florir sem consciência .
Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.
António Gedeão
imagem _ Oliveira Milenar _
" A crescer e a florir sem consciência . "
sem consciência . . .
Não creio . . .