A _ cor _ dar , é preciso !


sexta-feira, novembro 30, 2007

Côr de não metade.



Recomeça
Se puderes, sem angustias e sem pressa.
E os passos que deres
Nesse caminho duro do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade .!

Miguel Torga

quinta-feira, novembro 29, 2007

Côr de um Outubro.



De amor nada mais resta que um outubro.
E quando mais amada mais desisto
Quanto tu mais me despes mais me cubro
E quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
Porque se mais me ofusco, mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto
Por fora ajoelho, corpo mistico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
Dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
Nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço,
Mais de terra e fogo é o abraço
Com que na carne queres reter-me jovem .!

Natália Correia

quarta-feira, novembro 28, 2007

Côr de sò acompanhada.



Oh .!
Esta comoção de me sentir sózinha
no meio da multidão ...
A ouvir o meu coração
No peito do vizinho .
Oh .!
Esta solidão ... !
( ... )

José Gomes Ferreira

terça-feira, novembro 27, 2007

Côr de nomes primeiro.



Imensamente nos deitamos um no outro
e não mais nascemos para a mão escura
que tapa o sol e afoga a lua .

Estamos como se tudo estivesse connosco
E connosco estivessem os nomes que primeiro se deram
flor ... rio ... azul ... estrela ... terra ... .!

Vasco Gato

segunda-feira, novembro 26, 2007

Côr de leve vestígio.


(... )

Não lhes falta
o olhar ... basta-lhes
o horizonte ...

leve vestígio de mãos
e cansaço,

quietude reflectida na lenta
memória ...

dos segundos .!
( ... )

Ruy Ventura

domingo, novembro 25, 2007

Côr de ... Natal.



Nasceu
Foi numa cama de folhelho
entre lençois de estopa suja
num pardieiro velho.
Trinta horas depois a mãe pegou na enxada
e foi roçar nas bordas dos caminhos
manadas de ervas
para a ovelha triste.
E a criança ficou no pardieiro
só com o fumo negro das paredes
e o crepitar do fogo,
enroscada num cesto vindimeiro,
que não havia berço
naquela casa.

E ninguém conta a história do menino
que não teve
nem magos a adorá-lo
nem vacas a aquecê-lo,
mas que há-de ter
muitos Reis da Judeia a persegui-lo.
Que não terá coroas de espinhos
mas coroas de baionetas
postas até ao fundo do seu corpo.

Ninguém há-de contar a história do menino.
Ninguém lhe vai chamar o Salvador do Mundo .!


Dezembro de 1940
Alvaro Feijó

sábado, novembro 24, 2007

Côr de contemplação.



Diz-me
Assim devagar, coisa nenhuma ... .!

sexta-feira, novembro 23, 2007

Côr de seres livres.



Cada virtude possui propriedades particulares ...
O amar traz-nos calor
A sabedoria traz-nos luz
A verdade traz-nos liberdade.
Sim, porque a verdade tem uma ligação com a vontade
e com a acção.
Portanto, os nossos actos serão tanto mais correctos,
quanto mais agirmos com essa mesma verdade.
E, só a partir daí, é que nos podemos chamar de...
Seres livres .!

quinta-feira, novembro 22, 2007

Côr de deveres para casa.



A vida
É uns deveres que trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas ... há tempo .
Quando se vê, já é sexta-feira .
Quando se vê, passaram sessenta anos ...
Agora, é tarde demais para ser reprovado.
E se me dessem ... um dia, uma outra oportunidade,
Eu nem olhava para o relógio.
Seguia sempre, sempre em frente ...

E iria jogando pelo caminho, a casca dourada e inutil das horas .!

Mario Quintana

quarta-feira, novembro 21, 2007

Côr de competição.




O homem luta para chegar na frente ...
Mesmo que seja pela solidão de um primeiro lugar . !

terça-feira, novembro 20, 2007

Côr de direito á liberdade.



Quando
Isto acontecer, quando não houver necessidade de grades nem
barreiras.
Quando nenhum animal for utilizado para divertir o animal
homem ...

Podemos começar a ter esperança na salvação do planeta e da
própria humanidade .!

segunda-feira, novembro 19, 2007

Côr de ... só podem .!



As pessoas que detestam gatos, só podem ter sido ... ratos ...
Numa vida anterior. !

sábado, novembro 17, 2007

Côr de desejo meu.



Abre os olhos e encara a vida !
A sina tem que cumprir-se ! Alarga os horizontes !
Por sobre lamaçais alteia pontes
Com as tuas mãos preciosas de menina.

Nessa estrada da vida que fascina
Caminha sempre em frente , além dos montes !
Morde os frutos a rir ! Bede das fontes !
Beija aqueles que a sorte te destina !

Trata por tu a mais longínqua estrela ,
Escava com as mãos a própria cova
E depois, a sorrir deita-te nela !

Que as mãos da terra façam, com amor,
Da graça do teu corpo, esguia e nova,
Surgir à luz, a aste de uma flor .! ...

Florbela Espanca

sexta-feira, novembro 16, 2007

Côr de Através do Espelho.


" Não sei o que queres dizer com glória " , disse Alice.
Humpty-Dumpty sorriu , com desprezo .
" Claro que não ... até que eu te diga . Quero dizer ,
- aí tens um belo argumento que te arruma - .! "
" Mas , glória , não significa ... -um belo argumento
que te arruma - " , objectou Alice .
" Quando eu uso uma palavra " , disse Humpty-Dumpty ,
em tom de escarnio , " ela significa o que eu decidir que
significa ... nem mais , nem menos . "
" O problema é " , disse Alice , " se se pode obrigar as
palavras a significar tantas coisas diferentes . "
" O problema é " ... disse Humpty-Dumpty ,
" Quem é que manda ... Apenas isso . ! "


Lewis Carroll , Through the Looking-Glass

quinta-feira, novembro 15, 2007

Côr de levitar.



Esta imagem há muito tempo que me persegue e fascina.
Apesar do crescimento espiritual ser grande, ao ponto de
se elevar com toda a delicadeza e ao mesmo tempo com a
firmeza corporal que advem de um ser livre, utiliza algo
terreno, o guarda chuva, para que seja apenas um levitar
e não uma fuga ... .!

quarta-feira, novembro 14, 2007

Côr de voz.



Era uma voz que doía,
Mas ensinava.
Descobria,
Mal o seu timbre se ouvia
No silêncio que escutava.

Paraísos, não havia.
Purgatórios, não mostrava.
Limbos sim, é que dizia
Que os sentia,
Pesados de covardia,
Lá na terra onde morava.

E morava neste mundo
Aquela voz.
Morava mesmo no fundo
Dum poço ... dentro de nós. !

Miguel Torga

terça-feira, novembro 13, 2007

Côr de possibilidade.



Põe
A bondade como base da tua morada
A justiça como medida
O amor como deleite
A sabedoria como limite
A verdade como luz.
Quem sabe ... se agirmos sob este paradigma, não teremos maior possibilidade de agir ... .!

segunda-feira, novembro 12, 2007

Côr do medo .


Medo da morte ...
A maioria dos humanos tem medo da morte. Mas este, não tem a ver com a morte em si, mas com o desconhecido.
E assim, temos medo de sofrer, disto e daquilo... mais concretamente ,
De viver .
E se não conseguirmos compreender a causa desse medo e não formos capazes de nos libertar dele, então ... não é significativo estarmos ...
Vivos ou mortos .!

domingo, novembro 11, 2007

Côr da Liberdade.



Dizem
Se encontrares um escravo a dormir, não o acordes, pode estar
a sonhar com a liberdade .
Não ...
Se encontrares um escravo a dormir, acorda-o, para lhe falares
da liberdade .!


Kahlil Gibran

sábado, novembro 10, 2007

Côr de definição.



O Amor não se diz ... Não se define .

E talvez seja essa a sua melhor definição .!

Não se consegue verbalizar,
Porque a nossa linguagem humana
É demasiado superficial e imperfeita para o fazer .

Mas acredito que quando as palavras forem substituídas
Pelo silêncio dos gestos,
Todo o sentir
Rejeite definição ... .!

sexta-feira, novembro 09, 2007

Côr de inevitável.



Fiz um acordo de coexistência com o tempo .
Nem ele me persegue nem eu fujo dele .
Um dia a gente se encontra ... .!

Mário Lago

quinta-feira, novembro 08, 2007

Côr de distanciação.



Conhece-te a ti mesmo, mas não fiques íntimo ... .!

quarta-feira, novembro 07, 2007

Côr de persistência.



Quando,
Nada parece dar certo, vou ver o cortador de pedras, a martelar
uma rocha.
Talvez cem vezes, sem que uma única rachadura apareça.
Mas na centésima primeira martelada a pedra abre-se em duas.
E eu sei que não foi aquela que conseguiu ... Mas todas as que ...
vieram antes ... .!

Jacob Riis

terça-feira, novembro 06, 2007

Côr de ainda.



Tu já me arrumaste no armário dos restos.
Eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos.
E das nossas memórias, começamos a varrer
As pequenas gotas de felicidade
Que já fomos.
Mas no tempo subjectivo,
Tu és ainda o meu relógio de vento,
A minha máquina aceleradora de sangue.
E por quanto tempo ainda,
As minhas mãos serão para ti
O nocturno passeio de um gato no telhado ... .!

Isabel Meyrelles

segunda-feira, novembro 05, 2007

Côr de fraqueza humana.



Esta imagem não é um chocar gratuíto ... Até porque não passa de uma montagem.
Mas o inverso existe, realmente ... Pensemos nisso ... .!

domingo, novembro 04, 2007

Côr de onda marítima.



Que
Eu tenha a perseverança da onda do mar,
Que faz de cada recuo um ponto de partida, para um novo avanço .!


Gabriela Mistral

sábado, novembro 03, 2007

Côr de estar.



Deixa-me sentar ao teu colo a ver passar
O rio ...
Deixa-me assim estar sem pensar ,
No vazio ...
Abraça-me apenas
E eu não sentirei mais frio .
Deixa-me sonhar que é amor
Aquilo que te vejo no olhar ...
E deixa-me assim estar
( tão longe de casa e dos mimos e da esperança )
No aconchego do abraço
Que tens para me dar .!


Blue Shell

sexta-feira, novembro 02, 2007

Côr de janela aberta.



Tenho quarenta janelas
Nas paredes do meu quarto.
Sem vidro nem bambinelas.

Posso ver através delas,
O mundo em que me reparto.

Por uma entra a luz do sol
Por outra a luz do luar
Por outra a luz das estrelas
Que andam no céu a rolar.

Por esta entra a Via Láctea
Como um vapor de algodão.
Por aquela a luz dos homens,
Pela outra escuridão.

Pela maior entra o espanto,
Pela menor a certeza,
Pela da frente a beleza
Que inunda de canto a canto.

Pela quadrada entra a esperança
De quatro lados iguais,
Quatro arestas, quatro vertices
Quatro pontos cardeais.

Pela redonda entra o sonho
Que as vigias são redondas
E o sonho afaga e embala
À semelhança das ondas.

Por além entra a tristeza
Por aquela entra a saudade
E o desejo, e a humildade
E o silêncio, e a surpresa
E o amor dos homens, e o tédio
E o medo, e a melancolia
E essa fome sem remédio,
A que se chama poesia.

E a inocência e a bondade
E a dor própria e a alheia
E a paixão que se incendeia
E a viuvez e a piedade.
E o grande passaro branco
E o grande passaro negro
Que se olham obliquamente
Arrepiados de medo.

Todos os risos e choros
Todas as fomes e sedes
Tudo alonga a sua sombra
Nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto
Quem vos pudesse rasgar.
Com tanta janela aberta,
Falta-me a Luz e o Ar ... .!

António Gedeão

quinta-feira, novembro 01, 2007

Côr de coração envasado.



Há dias, encontrei na porta do prédio onde moro
um vaso.
Na altura, estava a precisar de um, para colocar

uma muda de planta que me tinham oferecido.
Por isso, e, como em principio, não tinha dono,

trouxe-o.
Plantei a dita muda e comecei a tratá-la com
o carinho que dedico a todas as minhas plantas.
Dias depois, surpresa ... !
Sai da terra, não a especie que esperava, mas

este coração.
Agora a minha dúvida ... Vinha no vaso, em forma

de semente, e eu não me apercebi ... ou
A muda que me deram, era um coração ainda sem

raiz e em fase de crescimento ...
Abreviando ... Tenho um coração, num vaso, mas

que não me pertence e que pode estar a fazer falta
a alguém.
Portanto, se souberem de um ser que ande triste, com
dificuldade de amar, e não saiba a razão, digam-lhe ...

Que tenho um coração num vaso e que lho oferecerei,
com toda a ternura ... caso o queira .!
Obrigada .!