A _ cor _ dar , é preciso !


segunda-feira, setembro 21, 2015

Côr de país . . .

 


No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente

Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça

Dezembro vibra vidros brande as folhas
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul

Que cobre os campos neste meu país do sul?
A gente é previdente  tem  saúde  e  assistência  

cala-se e mais nada
A boca é pra comer e pra trazer fechada
o único caminho é direito ao sol

No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
o fisco vela e a palavra era para toda a gente

E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol



O  português  paga  calado  cada  prestação
Para  banhos  de  sol  nem  casa  se  precisa
E  cai-nos  sobre  os  ombros  quer  a  arma  quer a  sisa
e  o  colégio  do  ódio  é  a  patriótica  organização

Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?

Há neste mundo seres para quem
a vida não contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe,
atenta a gravidade do momento

O meu país é o que o mar não quer
é o pescador cuspido à praia à luz  do  dia
pois a areia cresceu e a gente em vão requer
curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia

A minha terra é uma grande estrada
que põe a pedra entre o homem e a mulher
O homem vende a vida e verga sob a enxada
O meu país é o que o mar não quer







Ruy  Belo  [  todos  os  poemas  ]


1 comentário:

Luis Filipe Gomes disse...

É o mesmo país e continuamos com a mesma resignação.