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terça-feira, junho 19, 2018

Côr de dentro de mim



















Dói-me a cabeça aos trinta e nove anos.
Não é hábito. É rarissimamente que ela dói.
Ninguém tem culpa.
Meu pai , minha mãe descansaram seus fardos ,
não existe mais o modo
de eles terem seus olhos sobre mim .
Mãe , ô mãe , ô pai , meu pai . Onde estão escondidos ?
É dentro de mim que eles estão .
Não fiz mausoléu pra eles , pus os dois no chão .
Nasceu lá , porque quis , um pé de saudade roxa ,
que abunda nos cemitérios .
Quem plantou foi o vento , a água da chuva .
Quem vai matar é o sol .
Passou finados não fui lá , aniversário também não .
Pra quê , se pra chorar qualquer lugar me cabe ?
É de tanto lembrá-los que eu não vou .
Ôôôô pai ,
Ôôôô mãe ,
Dentro de mim eles respondem
tenazes e duros,
porque o zelo do espírito é sem meiguices . . . 
Ôôôôi   fia.







Adélia  Prado
imagem  _ Catrin  W -  Stein _

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