A _ cor _ dar , é preciso !


quarta-feira, setembro 05, 2018

Côr de desenhar uma casa




Primeiro abre-se a porta  .
Por dentro sobre a tela imatura onde previamente
se escreveram palavras antigas . . .  o cão , o jardim impresente ,
a mãe para sempre morta .

Anoiteceu , apagamos a luz e , depois ,
como uma foto que se guarda na carteira ,
iluminam-se no quintal as flores da macieira
e , no papel de parede , agitam-se as recordações .

Protege-te delas , das recordações ,
dos seus ócios , das suas conspirações.
Usa cores morosas , tons mais-que-perfeitos ...
o rosa para as lágrimas , o azul para os sonhos desfeitos .

Uma casa é as ruínas de uma casa ,
uma coisa ameaçadora à espera de uma palavra ,
desenha-a como quem embala um remorso ,
com algum grau de abstracção e sem um plano rigoroso .




Manuel  António de Pina 
imagem  _  Marc  Chagal  _

2 comentários:

Emília Pinto disse...

Que lindo, Maria! É tudo isso que sinto quando olho a casa onde nasci e vivi até partir para o Brasil; ainda está no mesmo lugar, na mesma aldeia e com o interior sem alterações. Não gosto de a olhar, pois está vazia de gente, de vida e cheia de belas recordações que me deixam com uma grande nostalgia; tento mantê-la de pé, mas o tempo vai deixando as suas marcas em tudo, na natureza, nos animais, nos ditos racionais e até nas casas..o tempo passa e com ele tudo muda. Maria, adorei! Espero que estejas bem e tb gostaria de saber da saúde da tua amiguinha. Um beijo
Emilia

Justine disse...

Poesia inesgotável, a de MAP