A _ cor _ dar , é preciso !


quinta-feira, dezembro 25, 2014

Côr do meu menino Jesus





















  
  Ele mora comigo na minha casa         
     a  meio  do outeiro.
     Ele é a Eterna Criança , o deus que

     faltava.
     Ele é o humano que é natural ,
     Ele é o divino que sorri e que brinca.
     E por isso é que eu sei com toda a

     certeza
     Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

     E a criança tão humana que é divina
 

     A Criança Nova que habita onde
     vivo .
     Dá-me uma mão a mim
     E a outra a tudo que existe
     E assim vamos os três pelo caminho

     que houver,
     Saltando e cantando e rindo
     E gozando o nosso segredo comum
     Que é o de saber por toda a parte
     Que não há mistério no mundo
     E que tudo vale a pena.

     A Criança Eterna acompanha-me
     sempre
     A direção do meu olhar é o seu dedo

     apontando.
     O meu ouvido atento alegremente 

     a  todos os sons
  

     Damo-nos tão bem um com o outro
     Na companhia de tudo
     Que nunca pensamos um no outro,
     Mas vivemos juntos e dois
     Com um acordo íntimo
     Como a mão direita e a esquerda.

     Ao anoitecer brincamos as cinco
     pedrinhas
     No degrau da porta de casa .
     Graves como convém ,
     E como se cada pedra
     Fosse todo um universo ,
     E fosse por isso um grande perigo

     para ela
     Deixá-la cair no chão.

     Depois eu conto-lhe histórias das
     cousas só dos homens
     E ele sorri, porque tudo é incrível.
     Ri dos reis e dos que não são reis,
     E tem pena de ouvir falar das

     guerras,
     E dos comércios, e dos navios
     Que ficam fumo no ar dos altos -

     mares
     Porque ele sabe que tudo isso falta

     àquela verdade
     Que uma flor tem ao florescer  .
     E que anda com a luz do sol
     A variar os montes e os vales .
     

     Depois ele adormece e eu deito-o.
     Levo-o ao colo para dentro de casa
     E deito-o, despindo-o lentamente
     E como seguindo um ritual muito

     limpo ,
     E todo materno até ele estar nu.

 
     Ele dorme dentro da minha alma .
    
     Quando eu morrer , filhinho,
     Seja eu a criança, o mais pequeno.
     Pega-me tu ao colo
     E leva-me para dentro da tua casa.
     Despe o meu ser cansado e humano
     E deita-me na tua cama.
     E conta-me histórias, caso eu acorde,
     Para eu tornar a adormecer.
     E dá-me sonhos teus para eu brincar
     Até que nasça qualquer dia
     Que tu sabes qual é.
    
     Esta é a história do meu Menino

     Jesus
     Por que razão que se perceba
     Não há de ser ela mais verdadeira
     Que tudo quanto os filósofos pensam
     E tudo quanto as religiões ensinam
?









Alberto  Caeiro _  Guardador  de  Rebanhos_ [excerto  de  Num  meio  dia de  fim  de  primavera ]

imagem  _  Dorothy  Lathrop  _
 
 

3 comentários:

Luis Filipe Gomes disse...

Este também é o meu menino Jesus.

GL disse...

Este devia ser o Menino Jesus da Humanidade, toda ela, e o mundo seria perfeito.
Beijinho

ONG ALERTA disse...

Um Ano Novo cheio de magia no ar, beijo Lisettte.