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sexta-feira, setembro 29, 2017

Côr de burocracia





















Sixto Martínez  fez  o  serviço  militar  num  quartel  de  Sevilha. 

No  meio do pátio desse quartel havia  um banquinho. Junto  ao  banquinho, 
um  soldado  montava  guarda. 
Ninguém sabia porque se montava guarda para o banquinho.
A  guarda era feita  por que sim, noite e dia, todas as  noites, todos  os dias,
e de geração  em  geração  os  oficiais  transmitiam  a  ordem  e os soldados obedeciam.
Ninguém  nunca  questionou , ninguém  nunca  perguntou.
Assim era feito, e sempre tinha sido feito.
E assim  continuou  sendo  feito  até que  alguém , não  sei  qual  general ou
coronel , quis  conhecer   a ordem original.
Foi  preciso revirar os arquivos  a  fundo. E  depois de muito cavoucar , soube-se . . .

Fazia trinta e  um  anos, dois meses e quatro  dias, que um oficial tinha 
mandado  montar guarda junto ao banquinho, que fora , recém-pintado, para que . . . 
ninguém  se sentasse na tinta  fresca . 









 Eduardo   Galeano  _    O livro  dos  abraços  _
imagem  _  Jean  Baptiste   Monge  _

2 comentários:

Luis Filipe Gomes disse...

Em todo o lado, cada vez mais, encontro estes guardiões de de banquinhos.

AC disse...

Galeano, observador ímpar do género humano...
Curiosamente, Maria, acho o texto, à medida que o tempo passa, cada vez mais pertinente. As pessoas, sem se darem conta, perderam a memória.

Abraço :)