A _ cor _ dar , é preciso !
quarta-feira, dezembro 25, 2019
Côr de 25 de Dezembro
Foi numa cama de folhelho,
entre lençóis de estopa suja
num pardieiro velho.
Trinta horas depois a mãe pegou na enxada
e foi roçar nas bordas dos caminhos
manadas de ervas
para a ovelha triste.
E a criança ficou no pardieiro
só com o fumo negro das paredes
e o crepitar do fogo,
enroscada num cesto vindimeiro,
que não havia berço
naquela casa.
E ninguém conta a história do menino
que não teve
nem magos a adorá-lo,
nem vacas a aquecê-lo,
mas que há-de ter
muitos reis da Judeia a persegui-lo
que não terá coroas de espinhos
mas coroas de baionetas
postas até ao fundo do seu corpo.
Ninguém há-de contar a história do menino.
Ninguém lhe vai chamar o Salvador do Mundo.
Alvaro Feijó
imagem _ net _
quarta-feira, dezembro 18, 2019
terça-feira, novembro 19, 2019
sábado, novembro 09, 2019
Côr de coisas sólidas e verdadeiras
O leitor que, à semelhança de O'Neill, me pede a crónica que já traz engatilhada perdoar-me-á que, por uma vez, me deite no divã...
Estou farto de política!
Eu sei que tudo é política, que, como diz Szymborska, "mesmo caminhando contra o vento/ dás passos políticos/ sobre solo político". Mas estou farto ... de todos eles, do défice, da crise, de editoriais, de analistas!
Por isso, decidi hoje falar de algo realmente importante ... nasceram três melros na trepadeira do muro do meu quintal. Já suspeitávamos que alguma coisa estivesse para acontecer pois os gatos ficavam horas na marquise olhando lá para fora, atentos à inusitada actividade junto do muro e fugindo em correria para o interior da casa sempre que o melro macho, sentindo as crias ameaçadas, descia sobre eles em voo picado.
Agora os nossos novos vizinhos já voam. Fico a vê-los ir e vir, procurando laboriosamente comida, os olhos negros e brilhantes pesquisando
o vasto mundo do quintal ou, se calha de sentirem que os observamos, fitando-nos com curiosidade, a cabeça ligeiramente de lado, como se se perguntassem ...
"E estes, quem serão?"
Em breve nos abandonarão e procurarão outro território para a sua jovem e vibrante existência.
E eu tenho uma certeza... não, nem tudo é política .
A política é só uma ínfima parte, a menos sólida e menos veemente, daquilo a que chamamos impropriamente vida.
Manuel António Pina _ J. N. 01 . 08 . 2012 _
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Manuel António Pina . Crónicas
segunda-feira, setembro 23, 2019
Côr de Alice
Há cento e trinta anos, depois de visitar o País das Maravilhas ,
Alice entrou num espelho para descobrir o mundo ao avesso.
Se Alice renascesse em nossos dias , não precisaria atravessar nenhum espelho . . .
bastaria que chegasse à janela !
Eduardo Galeano _ De pernas para o ar _
imagem _ John Tenniel _
domingo, setembro 22, 2019
sábado, setembro 21, 2019
Côr de " certezas "
Não ,
não é nos bons momentos que podemos avaliar o amor do companheiro,
a amizade do amigo e até mesmo . . . a simpatia do desconhecido !
imagem _ Hisano Hirashi _
sexta-feira, setembro 06, 2019
Côr de recuos
Em consideração a mim, cobri-me de recuos.
Eu , que de docilidades me fizera . . .
Eu , que de docilidades me fizera . . .
Hilda Hilts
imagem _ Francine V. Hove _
imagem _ Francine V. Hove _
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Hilda Hist . Coisitas minhas
sábado, agosto 31, 2019
sexta-feira, agosto 30, 2019
Côr de os gatos
Há um deus único e secreto
em cada gato inconcreto
governando um mundo efémero
onde estamos de passagem . . .
Manuel António Pina _ Os gatos , 1ª estrofe _
imagem _ foto de Manuel António Pina com alguns dos seus amigos _
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Manuel António Pina . Os gatos .
quarta-feira, agosto 28, 2019
Côr de Ultimo Poema
/
Pensei que fosse o meu o teu cansaço . . .
Que seria entre nós um longo abraço .
/
E fugiste ...
Que importa ?
Se deixaste a lembrança violeta que animaste ,
Onde a minha saudade a Cor se trava ? . . .
Mário de Sá Carneiro [ excerto ]
imagem _ Charles Dwyer _
domingo, agosto 11, 2019
Côr de consideração
Ontem ,
descobri que necessito ter muita consideração
por uma pessoa , ao ponto de fazer o esforço . . .
de elevar a voz .
imagem _ Afarin Sajedi _
quinta-feira, agosto 08, 2019
Côr de aqueles aplausos
Desde que Garcia Lorca havia caído , crivado de balas ,
no alvorecer da guerra espanhola , A Sapateira Prodigiosa
não aparecia nos palcos de seu país .
Muitos anos tinham passado quando os teatreiros do
Uruguai levaram essa obra a Madrid .
Atuaram com alma e vida .
No final não receberam aplausos .O público pôs - se a pisar
forte no chão , com fúria total , e os actores não entendiam
nada .
China Zorrilla contou . . .
_ Ficamos pasmos . Um desastre . Era de chorar .
Mas , depois , explodiu a ovação . Longa , agradecida . E os
actores continuavam sem entender .
Talvez aquele primeiro aplauso com os pés , aquele trovão
sobre a terra , tenha sido para o autor .
Para o autor , fuzilado por ser comunista , por ser maricas ,
por ser esquisito .
Talvez tenha sido uma forma de dizer a ele . . .
Veja , Frederico , como você está vivo .
Eduardo Galeano _ Bocas do Tempo _
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Eduardo Galeano .Bocas do Tempo .
domingo, agosto 04, 2019
sábado, julho 20, 2019
sexta-feira, julho 19, 2019
Côr de não te rendas
Procura acrescentar um côvado
à tua altura. Que o mundo está
à míngua de valores
e um homem de estatura justifica
a existência de um milhão de pigmeus
a navegar na rota previsível
entre a impostura e a mesquinhez
dos filisteus.
à tua altura. Que o mundo está
à míngua de valores
e um homem de estatura justifica
a existência de um milhão de pigmeus
a navegar na rota previsível
entre a impostura e a mesquinhez
dos filisteus.
Ergue-te desse oceano
que dócil se derrama sobre a areia
e busca as profundezas, o tumulto
do sangue a irromper na veia
contra os diques do cinismo
e os rochedos de torpezas
que as nações antepõem a seus rebeldes .
que dócil se derrama sobre a areia
e busca as profundezas, o tumulto
do sangue a irromper na veia
contra os diques do cinismo
e os rochedos de torpezas
que as nações antepõem a seus rebeldes .
Não te rendas jamais, nunca te entregues,
foge das redes, expande teu destino.
E caso fiques tão só que nem mesmo um cão
venha te lamber a mão,
atira-te contra as escarpas
de tua angústia e explode
em grito, em raiva, em pranto.
Porque desse teu gesto
há de nascer o Espanto.
Eduardo Alves da Costaimagem _ Afarin Sajedi _
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Eduardo Alves da Costa . Não te rendas
terça-feira, julho 16, 2019
Côr de ... e assim vai a humanidade !
Casal beijando - se depois de ter morto o leão .
Imagem retirada do Jornal de Notícias , onde se encontram mais pormenores .
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Nós os humanos . Coisas minhas .
Côr das excepções .
Quando
" for grande " quero ser este homem . . .

Tinha agendado esta publicação para hoje .
imagem _ net _
" for grande " quero ser este homem . . .

Tinha agendado esta publicação para hoje .
imagem _ net _
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Coisitas minhas . Quando " for grande "
domingo, julho 14, 2019
Côr de outro coração
Ante o frio
faz com o coração
o contrário de que fazes com o corpo...
despe - o .
Quanto mais nu ,
mais ele encontrará
o único agasalho possível ...
Um outro coração .
Conselho do Avô , Mia Couto _ A chuva pasmada _
Imagem _ Kate MacDawel _
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Mia Couto . A chuva pasmada .
quarta-feira, julho 10, 2019
Côr de mãos
Não
escutemos sómente as línguas ,
interroguemos as mãos .
Elas não conseguem mentir , mesmo refugiadas na gruta recôndita das algibeiras.
Gosto de mãos e de sentir a sua energia e a estória que atravessam no momento .
Há as tristes como flores murchas , e as cerradas a comprimir a raiva e a dor .
Há as erguidas como muralhas .
Há as que dizem em silêncio .
Há as que mesmo à distância seguram quem está prestes a tropeçar, mãos aconchegantes , e que juntam as suas para beberem a tristeza dos outros .
Já senti muitas mãos nas minhas. E, com elas , consegui tocar o impalpável .
Nunca esqueci as mãos das pessoas que amei.
Sinto algumas como se fossem minhas.
Sinto algumas como se fossem minhas.
imagem _ René Magritte _
domingo, julho 07, 2019
Côr de grito de todos nós
Edvard Munchc ouviu o céu gritar .
O crepúsculo já tinha passado , mas o sol persistia ,
em línguas de fogo que subiam do horizonte , quando o céu gritou .
Munch pintou esse grito .
Agora , quem vê o quadro tapa os ouvidos .
O novo ano nascia a gritar .
Eduardo _ Galeano _ Espelhos
imagem _ Edvard Munchc _
E a dor que provoca o grito continua , mais forte .
E para quê tapar os ouvidos ?
Ela está dentro de todos nós . . . ou devia !
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Eduardo Galeano . Espelhos . O grito
sábado, julho 06, 2019
sexta-feira, junho 28, 2019
quinta-feira, junho 27, 2019
Côr de altruísmo
Não
haja medo que a sociedade se desmorone sob um excesso de altruísmo.
Não há perigo desse excesso.
Fernando Pessoa _ Aforismo e Afins _
Imagem _ Adonna Khare _
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Fernando Pessoa. Aforismos .
domingo, junho 23, 2019
segunda-feira, junho 17, 2019
domingo, junho 16, 2019
Côr de as formigas
Tracey Hill era menina num povoado de Connecticut, e divertia - se com diversões próprias de sua idade, como qualquer outro doce anjinho de Deus no estado de Connecticut ou em qualquer outro lugar desde planeta.
Um dia, junto com seus companheiros de escola, Tracey pôs - se a atirar fósforos acesos num formigueiro.
Todos desfrutaram muito daquele sadio entretenimento infantil .
Tracey, porém, ficou impressionada com uma coisa que os outros não viram, ou fizeram como se não vissem, mas que a deixou paralisada e lhe deixou , para sempre, um sinal na memória . . .
frente ao fogo, frente ao perigo, as formigas separavam-se em casais, e assim, de duas em duas, bem juntinhas, esperavam a morte.
Eduardo Galeano _ O livro dos Abraços _
imagem _Piero Fornasetti
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Eduardo Galeano . O livro dos abraços
segunda-feira, junho 10, 2019
domingo, junho 09, 2019
sábado, junho 08, 2019
Côr de ensina - me
Diego não conhecia o mar.
O pai , Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul. Ele , o mar , estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia , depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos.
E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor , que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar , tremendo , gaguejando , pediu ao pai . . .
__ Pai , me ensina a olhar ! _
Eduardo Galeano _ O livro dos abraços _
imagem _ Massimo Della Matta _
Foi este o meu primeiro encontro com Eduardo Galeano .
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Eduardo Galeano . O livro dos abraços
domingo, junho 02, 2019
sábado, junho 01, 2019
Côr de perdas
Quando não sei onde guardei um papel importante e
a procura se revela inútil , pergunto-me . . .
se fosse eu e tivesse um papel importante para guardar,
que lugar escolheria? Às vezes dá certo.
Clarice Lispector
imagem _ Michael Parkes. _
Comigo jamais resultaria .
È que exactamente por ser eu , é que perco , ou " deixo " que me roubem . . .
objectos , papeis mesmo importantes , ideias , amores . . .
até a vida , pela módica quantia de 500 euros , tentaram .
Mas a perda maior ... a alegria . . .
Mas esta não foi perdida , roubaram - ma , em criança !
A Existência , atenta , talvez tente compensar - me ,
emprestando - me , de quando em vez , . . . . . . . . . asas !
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Clarice Lispector . Coisitas minhas
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