A _ cor _ dar , é preciso !


sexta-feira, novembro 02, 2007

Côr de janela aberta.



Tenho quarenta janelas
Nas paredes do meu quarto.
Sem vidro nem bambinelas.

Posso ver através delas,
O mundo em que me reparto.

Por uma entra a luz do sol
Por outra a luz do luar
Por outra a luz das estrelas
Que andam no céu a rolar.

Por esta entra a Via Láctea
Como um vapor de algodão.
Por aquela a luz dos homens,
Pela outra escuridão.

Pela maior entra o espanto,
Pela menor a certeza,
Pela da frente a beleza
Que inunda de canto a canto.

Pela quadrada entra a esperança
De quatro lados iguais,
Quatro arestas, quatro vertices
Quatro pontos cardeais.

Pela redonda entra o sonho
Que as vigias são redondas
E o sonho afaga e embala
À semelhança das ondas.

Por além entra a tristeza
Por aquela entra a saudade
E o desejo, e a humildade
E o silêncio, e a surpresa
E o amor dos homens, e o tédio
E o medo, e a melancolia
E essa fome sem remédio,
A que se chama poesia.

E a inocência e a bondade
E a dor própria e a alheia
E a paixão que se incendeia
E a viuvez e a piedade.
E o grande passaro branco
E o grande passaro negro
Que se olham obliquamente
Arrepiados de medo.

Todos os risos e choros
Todas as fomes e sedes
Tudo alonga a sua sombra
Nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto
Quem vos pudesse rasgar.
Com tanta janela aberta,
Falta-me a Luz e o Ar ... .!

António Gedeão

1 comentário:

vermelhodacereja disse...

Que bonito!