
Então apertou o gatilho e o animal deteve-se no ar /
António José Bolivar Proaño ergueu-se lentamente . Aproximou-se do animal morto e estremeceu /
Era maior do que julgara quando o vira pela primeira vez . Mesmo assim magra , era um animal soberbo , belo , uma obra prima de galhardia impossível de reproduzir sequer com o pensamento.
O velho acariciou-a , ignorando a dor do pé ferido , e chorou de vergonha , sentindo-se indigno , envilecido , de modo nenhum vencedor daquela batalha .
Com os olhos nublados de lágrimas e de chuva , empurrou o corpo do animal para a beira do rio /
Seguidamente , arremessou a espingarda com furia e viu-a mergulhar sem glória.
António José Bolívar Proaño cortou com um golpe de machete um grosso ramo e , apoiando-se nele , pôs-se a andar na direcção da sua choça e dos seus romances , que falavam de amor com palavras tão bonitas que às vezes lhe faziam esquecer a barbárie humana.
Luis Sepúlveda _ excerto de O velho que lia romances de Amor _
2 comentários:
uma fotografia: que luz, que expressão e várias interpretações! Adorei!
E eu adorei que tivesse adorado !
Beijinho
Enviar um comentário