A _ cor _ dar , é preciso !


quarta-feira, julho 15, 2009

Côr de armadilhas do tempo .



Sentada
de cócoras na cama , ela olhou-o longamente , percorreu seu corpo nu da cabeça aos pés , como se estudasse as sardas e os poros , e disse ...
_ a única coisa que eu mudaria em si , é o enderesso _
E a partir de então viveram juntos , se divertiam brigando pelo jornal no café da manhã , cozinhavam inventando e dormiam feito um nó
!


Agora , este homem mutilado dela , quer recordá-la como era .
Como era qualquer uma das que ela era , cada uma com a sua própria graça e seu próprio poderio , porque aquela mulher tinha o espantoso costume de nascer com frequência.
Mas não .
A memória se nega . A memória não lhe quer devolver nada além desse corpo gelado onde ela não estava .
Esse corpo vazio das muitas mulheres que ela foi
.!


Eduardo Galeano _ Bocas do tempo _

2 comentários:

paulo disse...

Há qualquer coisa de retrato , neste texto .

E finalmente começas a assumir o que pintas . Gosto muito da imagem anterior .

Beijos

Lilazdavioleta disse...

Paulo ,
obrigada pela visita e palavras .

beijo