A _ cor _ dar , é preciso !


sábado, fevereiro 13, 2010

Côr de ... não sabem viver .


*
Gosto dos que não sabem viver,
dos que se esquecem de comer a sopa
[
Allez-vous bientôt manger votre soupe,
s... b... de marchand de nuages
?]

e embarcam na primeira nuvem
para um reino sem pressa e sem dever.

Gosto dos que sonham enquanto o leite sobe,
transborda e escorre, já rio no chão,
e gosto de quem lhes segue o sonho
e lhes margina o rio com árvores de papel.

Gosto de Ofélia ao sabor da corrente.
Contigo é que me entendo,
piquena que te matas por amor
a cada novo e infeliz amor
e um dia morres mesmo
em »grande parva, que ele há tanto homem
!
»

[Dá Veloso-o-Frecheiro um grande grito?. . .]


Gosto do Napoleão-dos-Manicómios,
da Julieta-das-Trapeiras,
do Tenório-dos-Bairros
que passa fomeca mas não perde proa e parlapié...

Passarinheiros, também gosto de vocês
!

Será isso viver, vender canários
que mais parecem sabonetes de limão,
vender fuliginosos passarocos implumes
?


Não é viver.
É arte, lazeira, briol, poesia pura
!


Não faço
[quem é parvo?]
a apologia do mendigo;
não me bandeio
[que eu já vi esse filme...]

com gerações perdidas.

Mas senta aqui, mendigo...
vamos fazer um esparguete dos teus atacadores
e comê-lo como as pessoas educadas,
que não levantam o esparguete acima da cabeça
nem o chupam como você , seu irrecuperável
!


E tu, derradeira geração perdida,
confia-me os teus sonhos de pureza
e cai de borco, que eu chamo-te ao meio-dia...

Por que não põem cifrões em vez de cruzes
nos túmulos desses rapazes desembarcados p'ra morrer
?


Gosto deles assim, tão sem futuro,
enquanto se anunciam boas perspectivas
para o franco frrrrançais
e os politichiens si habiles, si rusés,
evitam mesmo a tempo a cornada fatal
!


Les portugueux...
não pensam noutra coisa
senão no arame, nos carcanhóis, na estilha,
nos pintores, nas aflitas,
no tojé, na grana, no tempero,
nos marcolinos, nas fanfas, no balúrdio e
... sont toujours gueux,
mas gosto deles só porque não querem
apanhar as nozes...

Dize tu ... - Já começou, porém, a racionalização do trabalho
?
Direi eu ... Todavia , o manguito será por muito tempo o mais económico dos gestos !

Saber viver é vender a alma ao diabo,
a um diabo humanal, sem qualquer transcendência,
a
um diabo que não espreita a alma, mas o furo,
a um satanazim que se dá por contente
de te levar a ti , de escarnecer de mim...
!




Alexandre O´Neill

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