Era uma tarde ensolarada de final de Inverno.
Por detrás da vidraça, apoiando o queixo na mão aberta e o cotovelo no peitoril da janela, estavam uns olhos claros, num rosto de serenidade, contemplando o horizonte.
Era um prédio alto, numa zona alta da cidade, o que permitia ver os telhados de outras casas mais baixas e ainda abria espaço para muito céu.
Quem se comportava de tal modo absorto, era artista.
Só podia ser.
Sorriu !
Um bando de andorinhas chilreava e volteava quase diante da sua janela!
Que encanto!
Sentiu-se despertar.
As andorinhas pousavam nos fios de electricidade e assim colocadas parecia que escreviam uma pauta musical.
Depois levantavam voo e dançavam alegremente.
Uma delas pousou num telhado bem próximo daquela janela.
E tudo começou !
Era um diálogo entre uma humana e uma ave, mas resultou.
_ Andorinha , gosto tanto de ti, tens um ar tão doce, como gostaria de te pintar...
Importas-te de posar para mim ? _
A andorinha sentiu-se lisongeada , alisou as penas da asa , endireitou a cabecita e ali permaneceu enquanto decorria a pintura.
Bem lhe custava estar tanto tempo parada enquanto as amigas se divertiam, mas queria ser generosa
Acabado o trabalho, a artista pousou os pinceis, agradeceu fervorosamente à andorinha que esperava para ver a obra.
Mostrou-lhe o retrato.
A andorinha fixou os dois olhitos, saltitou para mudar de posição e sentiu o seu coraçãozito bater acelaradamente.
Levantou voo e foi ver o seu reflexo numa janela próxima.
Não podia ser!
Naquela folha branca estava algo diferente de si !
Aquele olho era igual ao de uma sardinha assada que ela tinha visto...
As suas asitas , penteadas com tanto primor, tinham ficado espalmadas e o seu corpo transformado numa sequência de espinhas...
Afinal naquela obra-prima ela era Uma Andorinha no Espeto !
Inspirou profundamente e sem olhar para trás voou para bem longe, assustada.
Quando pousou no alto de uma palmeira e se sentiu em segurança tentou recompor-se. Repousou a cabeça na lágrima de Cristo que lhe adornava o peito e ainda pensou ...
Coitadita da pintora ... se calhar estava com fome!
Este texto foi escrito e oferecido por uma amiga , pois só amigos brincam e sabem fazê-lo .
Obrigada M. F . pela prosa poética .
Entretanto , fiquei a pensar na avezita e no trauma que posso ter provocado .
Procurei-a _ demorou uns dias _ mas consegui encontrá-la .
Pedi-lhe que tentasse perceber que nem sempre aquele que pinta transmite a relidade dos outros , mas a sua , no momento .
Mas queria compensá-la ...

Recorri a outro registo ...
e
deste gostou.
Ficamos amigas , como convem , entre os animais !
4 comentários:
Depois de ler o pequeno conto e sorrir recordo-me de toda a controvérsia da pequena andorinha desde o inicio: a sua busca, o seu nome e criação da mesma, por entre as cores aguareladas e todo o rebuliço encantador que por entre gargalhadas se comentava; sim é uma andorinha!
Parabéns as duas!
Está sanada a questão. Ressuscitou-se a andorinha e deu-se-lhe o aconchego da mão!
Renata,
obrigada .
beijinhos
FA , bom dia .
Mas é completa .
Critica arte com arte e comenta versejando.
Obrigada.
Beijo grande :)
Enviar um comentário